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Resenha: O Julgamento do Dr. Santiago



Autor(a): Everton Gullar

Editora: Alternativa

Páginas: 118

Ano da Publicação: 2017


 

Sinopse

O homem preso depois de atropelar um rapaz. O pai que teve a filha morta num assalto.

O homem que matou uma filha e não foi pego. O homem que morreu trabalhando por estar sem equipamento de proteção.

A família que foi indenizada, mas nunca teve o pai de volta. O freio que não freio que não freou. A montadora que recorreu a sentença e não indenizou.

Rapaz espancado até a morte durante a madrugada. Menores envolvidos e ninguém preso.

Outro morador de rua morto, queimado por adolescentes. Pais ricos, com bons advogados e dinheiro para pagar fiança.

Meninos esquartejando animais nos fundos da escola. Não há estrutura para orientar jovens infratores.

Meninas sofrendo na escuridão das tardes, longe de suas mães. Mães que não denunciam seus esposos.

O que é justiça?

 

A história tem como personagem principal Ósmio, um empresário divorciado que perdeu sua filha vítima de um latrocínio, caso esse que nunca foi solucionado, pois o assassino nunca foi encontrado. E Santiago, um cara aparentemente normal que, não aceitando o modo como as leis na sociedade funcionam, resolve fazer justiça com as próprias mãos, se tornando um justiceiro sem piedade, que proporciona aos parentes das vítimas e as vítimas a oportunidade de fazer justiça por si só.

Em um dia qualquer, dois homens encontram-se presos em uma Kombi, algemados um no outro. O desespero bate, os questionamentos sobre o que estaria acontecendo e a vontade de sobrevier começa a elaborar estratégias de fuga. O primeiro homem é um empresário, um cidadão exemplar e respeitado, o segundo é um sem teto, que com o passar das horas se mostra dependente químico, quando começa a ter uma crise de abstinência dentro do veículo. Mas o que ambos têm em comum? Aparentemente, nada.

O primeiro homem se chama Ósmio, cinquenta e um anos, um pai que teve sua filha Elô de dezoito anos estuprada, roubada e assassinada friamente por um alguém que nunca foi encontrado. O segundo homem se chama César, dezenove anos, uma jovem classe baixa, sem estudos, desempregado, que vive pelas ruas vagabundeando.

Eles conversam por alguns momentos e então Ósmio encontra um bilhete no bolso de sua calça com as seguintes palavras: “Ele matou sua filha”. Depois mais um bilhete onde diz que em sua meia há um canivete e as chaves das algemas e do veículo. Ósmio luta contra seus demônios, seus sentimentos, as lembranças de sua filha, a sede de vingança, defere alguns golpes contra César, mas decide não mata-lo e sim chamar a polícia e deixar que César pague por seus atos em vida.

Dias depois, Santiago aparece na porta de Ósmio para confessar que foi o responsável pelo encontro dele com o assassino de sua filha. Conta sua história e explica que cansou de ver injustiças acontecendo e decidiu ele mesmo proporcionar as vítimas da sociedade o poder de julgar seus culpados. Acontece que Ósmio foi o primeiro a proporcionar um resultado não morte nos julgamentos de Santiago, o que o faz não entender o porquê o pai não matou o assassino da filha. Inconformado, o doutor exige que Ósmio o ajude nos próximos julgamentos, para provar a ele mesmo que o empresário errou ao não condenar César. Obviamente ele não aceita, mas é obrigado a aceitar, já que Santiago sequestrou sua ex mulher, mãe de sua filha, e ameaça matá-la caso ele não concorde.

- Você foi o único a não julgar culpado a morte seu réu. Gostaria de entender mais, pois para mim parece tão obvio. Se alguém matar alguém que você ama, esse alguém merece morrer. Me ajude a entender.
- Não funciona assim. [...] Não cabe a homens como nós julgar. Para isso existem leis e diferentes formas de punir. Do contrario a lei “olho por olho e dente por dente” não teria deixado de existir. Por isso não matei César, quis acabar com sua vida desde o momento que li o primeiro bilhete, entretanto, o lugar dele era no presídio, cumprindo a pena por seus crimes.
- Você é fraco.
- Entenda como quiser. São atitudes como a minha que são responsáveis por separar os homens dos animais. Pág 41

Então eles fazem um acordo, Ósmio ajudara Santiago com os julgamentos, se os próximos três resultados forem não morte, Ósmio e Clara, sua ex mulher, podem seguir suas vidas normalmente. Mas se apenas um “julgador” decidir pela morte do culpado, Ósmio terá que ser o parceiro de Santiago para o resto da vida. E em nenhum dos casos poderá trair seu “companheiro” ligando para a polícia.


Obviamente a única coisa que acrescentarei é que ambos não cumpriram suas promessas, rs, o livro é pequeno, e acredito que já dei spoilers suficientes. Mas claro, que não contei nem metade de toda a história.


A história é excelente, nos leva a refletir sobre o conceito de justiça e sobre a situação do mundo em que vivemos. De quem é a culpa? Quem deve morrer? Podemos ter poder para decidir sobre a vida de alguém? E se essa pessoa matou alguém que você ama?

Conseguimos sentir a dor dos personagens, suas dúvidas, temores e dores. Aprendemos que a vida é mais do que vingança, que infelizmente coisas ruins acontecem, pessoas ruins fazem coisas ruins, mas pessoas boas também podem fazer coisas ruins, pessoas inocentes podem se sentir culpadas e, pessoas culpadas podem se sentir inocentes. Cada caso é um caso, existem vários caminhos e histórias percorridos e vividos até chegar no resultado, mas os caminhos e as histórias não se encerram lá.

É tanta maldade no mundo que as pessoas estão se esquecendo que a vida é mais do que isso.


Enfim, a leitura é excelente, reflexiva e flui rapidamente. Tem amor, tem dor, tem perseguição, tem suspense, tem vingança, tem perdão, muitas mortes, mas também muitas “ressurreições sociais e pessoais. Everton nos prende do começo ao fim e em apenas 118 páginas nos ensina uma vida inteira.

Eu amei muito esse livro. Confesso que queria um desfecho um pouco diferente, mas não me decepcionei de forma alguma. Recomendo demais!


Deixo para a degustação de vocês uma parte da Apresentação maravilhosa de “O Julgamento do Dr. Santiago” escrita pelo o autor.

“Um indivíduo é feito de muitas injustiças.
Como um quebra cabeça de dez mil peças é forjada a personalidade. As pequenas peças são o emaranhado de tudo, os sentimentos aproveitados durante a jornada.
Como toda resposta está nas perguntas, existem algumas que precisam passar por aprovações diferentes dos outros, e tem peças difíceis de se encaixar. Se deparam com a dor, são jogados em outro nível, e tudo que entendem das peças que estão em cima da mesa não faz mais sentido.
A dor é incompreendida, pode até transformar a vítima em um criminoso, dor soma-se a dor e o resultado é a perda de algumas peças[...]”
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